No ano em que comemora o seu 15.º aniversário, o Coro de Câmara de S. João da Madeira acrescentou à sua história mais um momento memorável com a participação na 4.ª edição do Festival de Coros de Câmara, que se realizou em Olhão, nos passados dias 25 e 26 de Maio, a convite da Associação Cultural Música XXI que conjuntamente com autarquia local organizou e promoveu este evento.
Alguém mais bem-humorado, por certo, até dizia: - Aqui em Olhão, este festival, é tão importante como o de marisco! - Ressalvas as devidas proporções, não era para menos, senão vejamos. A organização e a imprensa da região anunciavam que “vêm de vários pontos do país e são considerados dos melhores Coros de Câmara no panorama nacional” e que “de S. João da Madeira chega a Olhão o seu prestigiado agrupamento coral”, note-se.
Uma das responsáveis da Ass. Música XXI, Patrícia Neto Martins, revelava ao Correio da Manhã que “não é habitual fazerem-se festivais de coros de câmara. Por isso, decidimos apostar nesta vertente, pois são grupos com repertórios mais exigentes”. A juventude dos coros convidados foi também um traço distintivo assinalado a este festival
Os restantes grupos: de Lisboa, o Coro de Câmara Lisboa Cantat, dirigido em parceria pelos maestro Jorge Carvalho Alves e maestrina Clara Alcobia Coelho, que veio interpretar madrigais ingleses e música contemporânea (F. Poulenc e Paul Hindmith); de Aveiro, Capella Antiqua, dirigido por António Mário Costa, que trouxe música antiga (Palestrina, D. Pedro de Cristo e outros); e como anfitrião da região veio de Faro o Coro de Câmara Ossónoba, dirigido pelo maestro António Manuel Maria de Jesus, que apresentou temas do sec. XXVII, XVIII e contemporâneos.
No primeiro dia do Festival, o Coro de Câmara de S. João da Madeira exibiu-se na Igreja Matriz de Moncarapacho, freguesia de Olhão, local cuja história remonta ao período neolítico e que juntamente com as demais freguesias do concelho, também, receberam e promoveram esta iniciativa.
Neste concerto o Coro executou obras de Fernando Lopes Graça, Fernando Valente e do Cancioneiro Ibérico.
Apesar dos poucos moncarapachenses presentes, o Coro foi carinhosamente acolhido por eles e a sua actuação mereceu forte aplauso e entusiasmo.
Mas o melhor estava reservado para o fim, a actuação de cada um dos coros na Igreja Matriz de Olhão. A Igreja de Nossa Senhora de Rosário, um belíssimo edifício religioso, com a acústica perfeita para o caso, engalanou-se e encheu-se de público curioso e interessado.
Cada um dos coros interpretou quatros temas de música sacra, desde a antiga à contemporânea, percorrendo os vários séculos. O coro sanjoanense teve a honra de encerrar o concerto e o próprio festival: fê-lo com admirável e reconhecido profissionalismo e distinção. Um espectáculo único e com o público a ovacionar todos os coros e encantado por tanta e tão rica sonoridade oferecida pelas vozes dos coralistas superiormente conduzidas pela mão dos respectivos maestros.
Neste festival o Coro de Câmara de SJM teve a preocupação de continuar a divulgar os Compassos de S. João, estreando, fora de portas algumas dos seus futuros temas. Recorde-se que este projecto consiste na recolha de música popular da região de S. João da Madeira e das terras de S.ta Maria em geral e o arranjo coral desses temas por parte de compositores também desta região, com vista à gravação final de um CD.
Na foto, o retrato do coro num agradável passeio de barco pela Ria Formosa que a organização do festival proporcionou aos seus participantes, além duma vista ao museu/ecoteca/chalé João Lúcio. O Caíque do Bom Sucesso é uma réplica do barco que em 1808 partiu para o Brasil para informar o rei D. João VI sobre o levantamento popular que levou à expulsão das tropas de Napoleão. Foi um feito notável e de grande coragem dos olhanenses, que mais tarde levou a Olhão o epíteto de Vila da Restauração.
Na mesma senda do espírito aventureiro e corajoso demonstrado pelos velejadores de então, esperemos que o nosso Coro de Câmara, também ele, consiga levar os seus projectos adiante e a bom porto. O barco vai de saída ...
