25.11.06

Natal

O Natal sempre foi uma altura predilecta dos concertos do Coro. O sentimento de solidariedade que se instala condiz com a música coral. É por isso que o advento é tão recorrente nos compositores desse estilo.
Nunca mais vou esquecer aquele que para mim foi talvez o momento mais belo que tive com o coro. Conto? Aqui vai:
Era a nossa última noite em Praga, na República Checa. Tinhamos participado no "XII International Festival of Advent and Christmas Music" da Cidade de Praga (República Checa) e com a honrosa distinção de medalha de prata.
Estávamos no início do mês de Dezembro e as ruas já estavam repletas de enfeites e iluminações, muito vistosas e lindíssimas. Um frio de rachar.
Andávamos por ali a vaguear pela praça principal, a chamada praça do relógio, onde aí se chegava depois de passar uma ponte magnífica, cheia de ricas estátuas, que, segundo se dizia, traziam felicidade a quem sobre elas colocasse a mão por alguns segundos.
Sem saber bem onde ali poisar, a certa altura, juntámos-nos à beira dum pinheiro de natal gigante, que aquela praça ostentava, junto de edifícios e catedrais carregados de história. Como sempre as meninas queriam que cantássemos ali qualquer coisinha. O hábito do costume. Os homens hesitavam e não queriam, como sempre, também. Mas, timidamente, e assim como quem não quer a coisa, lá foram saindo os acordes e melodias dum Away in a manger. Enquanto cantávamos, contemplávamos de perto aquele majestoso pinheiro. No fim quando nos virámos para trás já tínhamos espectadores interessados. Turistas curiosos.
Engatámos e daquele momento sem jeito fizemos a melhor jam section de que tenho memória. Provavelmente. Não tinha sido programado, de facto, eramos poucos, pois, grande parte ficara no Hotel ou noutro lugar. A direcção musical estava ao nosso cargo.
Assim, foram-se abeirando dezenas de pessoas, de várias as cores e nações, que a pouco e pouco nos rodeavam e ouviam com atenção e curiosidade. E ouviram de tudo, desde espirituais até Tia Anica de Loulé.
Às tantas começamos a pensar que aquilo até podia dar umas coroas. - E Se pusessemos um chapeuzinho - Dizia a Ana a rir-se.
Nisto, alguém do público, que se apercebeu daquele nosso embaraço, veio ela própria pôr um chapéu no chão e à nossa beira.
Pé ante pé e um por um, aquela gente foi depositando a sua oferenda. E ali no instantinho fizemos 30 mil réis. Alguns dos dadores foram verdadeiramente generosos. Depois fomos para a night, afinal estávamos na antiga terra da boémia.
A memória do coro de câmara ficou ali para sempre gravada naquele lugar. Foi um momento mágico e sublime. Irrepetível? Não, não quero acreditar que seja.

(nota: corrigido)